Na pele do chão
André Gravatá
Em tempos duros, com sensibilidades entupidas, é fundamental que até a pele do concreto seja diretamente marcada por poesia e sutileza. Compartilho aqui uma breve biografia de poesias que nasceram no concreto:
Era mais uma tarde comum na escola Caetano de Campos, em SP, e o amigo Luiz Carlos estava dedicado na criação de placas de concreto que entrariam num vão no pátio da escola.
A pele do cimento recém-nascido chamou minha atenção enquanto caminhava no pátio ao lado de uma amiga, a Ana Luísa, e conversávamos sobre a criação de uma oficina de poesia.
Uma dos meus sonhos ainda não realizados era exatamente escrever poesia no cimento e encontrei ali uma oportunidade única, que não podia desperdiçar. Perguntei ao Luiz se havia espaço naquele cimento para algumas sutilezas e ele respondeu entusiasmadamente que sim. (Imaginem minha alegria inesperada!)
Nasceu uma frase sobre a origem daquele chão.
Um verso do poeta brasileiro Paulo Leminski, sobre sóis que merecem soltura.
Uma frase pra relembrar o óbvio ignorado.
De sonho realizado, voltei para casa com uma interrogação na mão: numa cidade educadora, que valoriza o encontro e a sutileza, há mais poesia escrita em livros ou nas paredes, chãos e coisas?