Um chamado para tirar as luvas das mãos
André Gravatá
Para falar sobre protagonismo jovem, convido o querido educador Paulo Freire para a conversa.
No livro Pedagogia da Autonomia, quando Freire fala sobre a relação entre educação e a convicção de uma mudança possível no mundo, ele diz: “Não posso estar no mundo de luvas nas mãos, constatando apenas”. As luvas que Freire não quer nas mãos são aquelas que nos distanciam da realidade, que nos impedem de entrar em contato com a pele do mundo diretamente. Ele faz um chamado para tirarmos as luvas das mãos reforçando que a educação não é neutra, que educar tem relação direta com intervir na realidade e por isso se faz necessária a insistência em perguntas como:
Estudo em favor de quê?
Estudo contra quê?
Não é que Freire esteja convidando a gente a dividir o mundo em dois, a favor e contra, é um convite mais complexo: ele está dizendo que a educação precisa estar comprometida com a mudança possível do mundo e consciente do contexto da sua realidade atual. Esse comprometimento nos leva a possibilidades de respostas bem urgentes para as perguntas de Freire, pois posso estudar e educar contra o preconceito racial, contra a desigualdade, a favor da emancipação, a favor da arte, contra a miséria, contra o machismo, a favor de cidades educadoras, a favor de uma comunicação não-violenta, a favor da inclusão, a favor do contato com a natureza, contra o autoritarismo.
E se olhamos para os projetos mais potentes que crianças e jovens têm desenvolvido em suas escolas, por todo o Brasil, encontramos ações realizadas sem luvas nas mãos, a favor de mudanças significativas nos seus territórios.
Participo do Criativos da Escola, um projeto realizado pelo Instituto Alana, por meio do qual encorajamos ações de protagonismo infanto-juvenil pelo país inteiro e há exemplos bem inspiradores a favor de uma educação que intervêm na realidade. No Ceará, por exemplo, o projeto Cruzando os sertões da mata branca nasceu contra a falta de conhecimento sobre a Caatinga, bioma com mais de 40% de área devastada. Criaram um projeto de lei que foi aprovado na Câmara dos Vereadores, para fortalecer as políticas de valorização e preservação da Caatinga. Veja mais por aqui:
Outro projeto para prestar atenção: no Rio de Janeiro, um grupo de alunas criou um coletivo contra o machismo e o racismo, com palestras e rodas de conversa sobre empoderamento feminino, oficinas sobre cuidados com os cabelos, entre outras movimentações. Para conhecer mais detalhes, veja este vídeo:
Projetos assim acontecem sem luvas nas mãos, deixariam Paulo Freire contente e apontam mudanças possíveis. Reafirmam que a educação tem o comprometimento com a realidade atual.
Se você desenvolve projetos protagonizados por crianças e jovens ou mesmo for um jovem envolvido em ações assim, aproveite e se inscreva no Desafio Criativos da Escola, que está com um chamado aberto até dia 1 de outubro, à procura de histórias de protagonismo: http://criativosdaescola.com.br/