Blog do André Gravatá

Não consigo me habituar
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André Gravatá

Dois amigos conversam num café. Um deles, chamado Bérenger, deixa claro: não se habitua com uma vida que se resume ao cansaço de tanto trabalhar. O amigo, Jean, é conformado: ''Todo mundo tem que se habituar''.

É durante a conversa que acontece um fato extraordinário: aparece um ruidoso rinoceronte por perto. Acelerado, violento, levanta poeira por onde passa. Deixa um rastro de perplexidade.

Os dois amigos não sabiam que rapidamente todas as pessoas ao redor também se transformariam em rinocerontes. Inclusive Jean, o defensor da normalidade. Apenas uma pessoa escapa da metamorfose: Bérenger. Percebemos a consciência desse personagem em carne viva quando compartilha seu dever mais radical a partir de então: ''… se opor aos rinocerontes, lucidamente, firmemente''.

Essa é a história de uma peça de teatro intitulada O Rinoceronte, escrita em 1959 pelo dramaturgo Eugène Ionesco. Os rinocerontes que correm pelo texto nos convidam a olhar no espelho para conferir o nível de deformação da nossa consciência. Conferir se a indiferença já transformou nossa linguagem em urro. Se nossa incapacidade de considerar o normal como absurdo nos fez acolher a transformação em animais violentos como uma dádiva ou inescapável aridez da maturidade.

A frase de Bérenger que mais representa o porquê de ele não ter se tornado um rinoceronte é ''não consigo me habituar''. Não consegue se habituar ao trabalho. Não consegue se habituar à uma aparência limpa, de barba feita, cabelo penteado. Não consegue se habituar com o barulho dos rinocerontes.

''Os mortos são mais numerosos que os vivos. O número deles aumenta e os vivos são raros'', comenta Bérenger no início da história. E os mortos, os rinocerontes, estão no poder. Há rinocerontes trabalhando para desmontar as conquistas trabalhistas. Há rinocerontes invadindo as escolas para silenciar professores. Há rinocerontes em fila nas redes sociais. Há rinocerontes disfarçados de bons sujeitos. Há quem se torne rinoceronte sem perceber, ludibriado pelo rinoceronte que se finge de bom sujeito.

Por outro lado, o ato de apontar para os rinocerontes também é acompanhado de um perigo: pode criar uma pretensão exagerada naqueles que não se reconhecem como rinocerontes. E aí quem não se sente rinoceronte acaba virando rinoceronte ao se plantar numa posição que reforça insistentemente o ódio ao outro.

Mas a reflexão que mais pulsa na peça e mais tem relação com nosso presente não é a divisão do mundo entre rinocerontes e humanos. A pergunta principal é o quanto somos capazes de nos habituar ou não com o estado de coisas ao nosso redor.

Sugiro um exercício breve: preste atenção nas situações vividas nesta semana em que você se sente movido a declarar intimamente e/ou publicamente que não consegue se habituar a elas. Não conseguir se habituar é o que pode garantir um pouco de sanidade nestes tempos em que o absurdo e a normalidade caminham tão próximos.


Escola em Manaus abre portas para a comunidade e para o protagonismo
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André Gravatá

“Há muita burocracia, muitos tentam transformar a escola numa empresa, mas queremos desconstruir esse olhar. Muitos falam que não dá para mudar a escola, não acreditam. Mas a gente prova, depois de um ano de projeto, que é possível fazer uma escola diferente. E a mudança contagia”, comenta Lúcia Cristina Santos, diretora da Escola Professor Waldir Garcia, em Manaus (AM), em uma inspiradora conversa que durou mais de três horas.

Um dos elementos que chama atenção perto da mesa de Lúcia é um estandarte com o colorido desenho de um boi e o nome dele: Garcioso. É uma lembrança do Festival de Folclore que mobiliza toda a comunidade e gera renda para a escola realizar pequenos consertos.

A Waldir Garcia, que recebe alunos do 1º ao 5º ano, foi a primeira escola de ensino integral de Manaus, e hoje já são cinco no total. O atual projeto se desenvolve com o apoio do Coletivo Escola Família do Amazonas (CEFA), um grupo de famílias que se reuniu para dialogar sobre a educação dos filhos, com a intenção de tirá-los de escolas particulares e matriculá-los em instituições públicas. Como sonhavam com uma educação transformadora, diferente, membros do CEFA descobriram várias práticas criativas e escreveram um projeto da escola que gostariam, em seguida apresentado para a secretaria municipal de educação. “Nós da escola Waldir Garcia queríamos realizar esse projeto na prática. E ano passado iniciamos, em fevereiro”, relembra Lúcia, que também viajou a São Paulo duas vezes, acompanhada de pessoas da sua equipe, para participar de um encontro sobre educação integral e se inspirar com iniciativas como a Escola Municipal Campos Salles, no Bairro Educador Heliópolis, e a EMEI Gabriel Prestes, na Rua da Consolação.

Lúcia anda comigo pela escola e mostra o lugar onde acontecem as assembleias semanais, prática que iniciou também em fevereiro do ano passado. Os alunos decidiram, por exemplo, depois de vários diálogos em assembleia, que os duzentos estudantes da escola não mais teriam intervalos separados, mas sim um mesmo momento de recreio, para conviverem mais próximos. Eles assumiram a responsabilidade de organizar o intervalo com todos alunos ao mesmo tempo.

Andando pelo Chapéu de Palha, nome do espaço na escola onde ocorrem as assembleias, dá pra ver uma marca de água nas paredes. É indício das cheias. Quando aumenta o nível do igarapé, a água toma conta dos arredores e de parte da própria escola. Dois anos atrás, para facilitar a presença dos alunos, alguns até acamparam nas salas de aula da Waldir Garcia. Entre os estudantes, há dezenove imigrantes, a maioria haitianos.

Entro nas salas de aula e vejo crianças que estão reaprendendo o que é uma escola. Desde o início do ano passado, muitas práticas mudaram na Waldir Garcia além da criação de assembleias.

Os alunos passaram a se encontrar semanalmente com tutores, para refletir sobre seus projetos de vida. É um momento para questionar quais são seus sonhos e como podem realizar essas aspirações. Outros funcionários da escola, que trabalham com a merenda e serviços gerais, também podem exercer o papel de tutores, assim como membros das famílias. E mais: todos os funcionários da Waldir Garcia também têm tutores, com quem combinam encontros de estudos e conversas – o tutor é alguém disponível para escutá-los. “A gente sentia que a merendeira, por exemplo, não se considerava parte do processo de educação, achando que só fazia a merenda e ponto. Mas a gente sabe o quanto ela é fundamental”, diz Lúcia.

Foram criados os grupos de responsabilidade, para que as crianças e jovens se comprometam, junto com seus tutores, a cuidar da escola no dia a dia. Há um grupo que apoia no recreio, outro na merenda, na sala de computadores e outros mais.

Os alunos passaram a aprender filosofia desde o primeiro ano, com a oficina de iniciação ao pensamento filosófico.

Aumentaram as visitas a espaços da região, para aprender sobre meio ambiente no parque, para ocupar o entorno com piqueniques, para assistir a filmes na tela do cinema.

Acabaram as filas no momento da entrada da escola, gerando uma polêmica com os pais, que reclamaram, viam o fim das filas como sinal de desorganização.

Encontro na quadra da escola durante a semana de literatura amazonense

Jovens nas mesas compartilhadas, em estudos a partir de roteiros de pesquisa individuais

“É preciso que o aluno seja protagonista, é preciso que o aluno desenvolva sua autonomia. Quando ele sai da escola quase nunca tem alguém o conduzindo pela mão. A autonomia é importante para a vida. Mas muitos pais ainda pensam que a melhor escola é a tradicional, a escola de quem decora, copia, responde pergunta de prova. Nosso desafio é envolver mais as famílias, para que entendam: os estudantes dão mais importância para a escola quando são protagonistas da própria educação, quando são convidados a participar, não recebendo tudo pronto. Aí os estudantes passam a ver a escola com outros olhos”, comenta Lúcia, ressaltando que os jovens são avaliados na escola não mais com provas bimestrais, mas sim ao longo do processo e com autoavaliações individuais e em grupo.

A diretora anda mais um pouco e me mostra a quadra. Já é noite e agora acontece uma partida de futebol a todo vapor, com um time de jovens estudantes da escola. Algumas pessoas que assistem à partida estão com sacolas de quitutes, para daqui a pouco celebrarem o aniversário de um dos garotos ao redor de uma mesa num dos cantos da quadra. Todos esses jovens e adultos estão na escola fora do horário de aula. É que a Waldir Garcia possibilita que a comunidade local use a quadra para praticar esportes ou mesmo desenvolver outras atividades, como as aulas de zumba que acontecem semanalmente. É só assinar um termo de responsabilidade para cuidar do espaço e respeitar os horários combinados.

Enquanto celebram o aniversário, celebro a existência dessa escola e da força das educadoras envolvidas nesse projeto. Espalhar essa história para que mais pessoas conheçam é fundamental para que nosso imaginário nutra-se não apenas das tragédias e retrocessos do presente, mas também das resistências que aumentam nosso fôlego.

* A Escola Municipal Waldir Garcia é a primeira escola do Norte do Brasil a ser selecionada pelo Escolas Transformadoras, um projeto que está criando uma rede com iniciativas de educação inspiradoras e com impacto relevante nas suas comunidades.

 

 

 


Cidade educadora é cidade poética
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André Gravatá

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Dia 30 de novembro de 2016 é o Dia Internacional das Cidades Educadoras, em comemoração à data em que nasceu a Carta das Cidades Educadoras, em 1990, durante o 1º Congresso Internacional das Cidades Educadoras, na Espanha. Para celebrar este dia, compartilho uma história de viagem por Rosário, onde participei do XIV Congresso Internacional de Cidades Educadoras, em 2016. O que encontrei por lá foi bem mais do que um evento com referências e inspirações para repensarmos as escolas e cidades. O poeta brasileiro Manoel de Barros diria que Rosário é um centro de invenção de esticadores de horizontes.

Em Rosário, o olhar se encanta de início com o Tríptico da Infância, uma conexão de três espaços públicos que promovem encontros inesperados. Na Ilha das Invenções, anteriormente uma estação ferroviária, há uma oficina para consertar corações partidos e um arquivo para guardar medos. O Jardim das Crianças, outro lugar brincante do Tríptico, é palco de uma máquina para voar; uma máquina com teias para se dependurar; uma engenhoca com escadas para inventar sons e depois descer de escorregador; e até uma trilha entre bambus para perder-se num pequeno labirinto com ruídos de mata. O terceiro espaço do Tríptico, a Granja da Infância, é um lugar para as crianças entrarem em contato com a natureza, com espaços para descobrir cheiros, texturas e sabores, por meio de experimentos. Para além do Tríptico, há também a Plataforma Lavardén, em que um dos andares é repleto de guarda-roupas que convidam a experiências de imersão em contextos fantásticos. Você abre um guarda-roupa e encontra uma biblioteca com livros pendurados no teto e estantes cheias de obras interessantes. Abre outro e se vê rodeado de paredes de espelhos e araras de roupas com fantasias. Abre mais um e aparece uma sala com quebra-cabeças. Abre mais um e se depara com o clube social e desportivo dos defensores de utopias. Abre mais um e o espanto doce é maior ainda: descobre um carrossel numa sala com extensas cortinas vermelhas.

São espaços públicos inventados para propor jogos fantasiosos, que aguçam os músculos da imaginação e a singular capacidade de criar de cada um. Dentro da Ilha das Invenções, ouvimos que há uma política de cuidado que convida adultos e crianças para jogar juntos. Inventaram espaços públicos que provocam o encontro do aprender com o imaginar, para que as pessoas se vejam inventivas. “O espaço público é um lugar para aparecer diante dos olhos dos outros”, comentou Chiqui González, Ministra de Inovação e Cultura da cidade de Santa Fé, uma das vozes mais marcantes do Congresso. Há um tempo, um garoto de oito anos disse para a ministra: “Então o espaço público é para aparecer, justo no país dos desaparecidos?”. Durante sua fala, Chiqui deu nome aos desaparecidos, com uma voz impregnada de emoção: “Que apareçam os movimentos sociais, que apareçam os jovens mexicanos mortos, que apareçam os que nunca tiveram nome, que apareçam os abandonados e abusados, que apareçam os velhos e pobres, que apareça a enorme força renovadora das mulheres, que apareça a sensibilidade, que apareça o afeto, que apareça a imaginação, que apareçam as percepções… Todas são irmãs. Que apareça a cultura. E que possamos viver melhor”. Ao lado de Chiqui, estava Macaé Evaristo, Secretária de Educação de Minas Gerais, que defendeu uma educação compromissada com os mais vulneráveis, com aqueles que historicamente foram transformados em desiguais. Inspirados por conversas com pessoas do mundo inteiro, dezenas de brasileiros que participavam do congresso em Rosário se reuniram para dialogar sobre o tema das cidades educadoras no Brasil, e pensar em trocas e ações coletivas possíveis. Quem sabe, em breve, encontraremos reverberações dessa conversa traduzidas em mais poesia derramada pelos nossos territórios?

Uma das frases citadas por Chiqui, de autoria da poeta argentina Alejandra Pizarnik, resume a experiência em Rosário: “Cada palavra diz o que diz, e além disso mais, e outra coisa”. Para inventar uma cidade educadora, não podemos nos contentar apenas com os dizeres explícitos, com as invenções óbvias. Precisamos buscar o que as palavras dizem mais além, e mais. Descobrir como imaginar um tanto mais, e mais um pouco. Mais, mas não no sentido do excesso e, sim, na direção do comprometimento com a consistência da poesia. Inventar novos contextos potentes e ir fundo, e continuar por mais. Como um convite para atravessarmos o labirinto do mundo, Rosário afirma que nossa imaginação é capaz de dizer mais.

*texto publicado inicialmente aqui


Na pele do chão
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André Gravatá

Em tempos duros, com sensibilidades entupidas, é fundamental que até a pele do concreto seja diretamente marcada por poesia e sutileza. Compartilho aqui uma breve biografia de poesias que nasceram no concreto:

Era mais uma tarde comum na escola Caetano de Campos, em SP, e o amigo Luiz Carlos estava dedicado na criação de placas de concreto que entrariam num vão no pátio da escola.
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A pele do cimento recém-nascido chamou minha atenção enquanto caminhava no pátio ao lado de uma amiga, a Ana Luísa, e conversávamos sobre a criação de uma oficina de poesia.
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Uma dos meus sonhos ainda não realizados era exatamente escrever poesia no cimento e encontrei ali uma oportunidade única, que não podia desperdiçar. Perguntei ao Luiz se havia espaço naquele cimento para algumas sutilezas e ele respondeu entusiasmadamente que sim. (Imaginem minha alegria inesperada!)
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Nasceu uma frase sobre a origem daquele chão.
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Uma pergunta misteriosa.
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Um verso do poeta brasileiro Paulo Leminski, sobre sóis que merecem soltura.
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Uma frase pra relembrar o óbvio ignorado.
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De sonho realizado, voltei para casa com uma interrogação na mão: numa cidade educadora, que valoriza o encontro e a sutileza, há mais poesia escrita em livros ou nas paredes, chãos e coisas?


Carta aberta ao mestre Manoel de Barros
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André Gravatá

Querido Manoel, não sei como começar esta carta… ela é uma tentativa de amarrar o tempo no poste. Como a gente amarra o tempo no poste, mestre Manoel? Esta carta é um vareio da imaginação, bem como o vareio que o senhor teve aos sete anos, quando tentou pegar na bunda do vento. Amarrar o tempo no poste é como pegar na bunda do vento?

Soube que o senhor está internado, temporariamente impossibilitado de pendurar bentevis no sol. O que o senhor tem que barra os bentevis? Há uma pergunta que dança em mim: os anos pesam o peso da pedra ou do algodão ou da pedra e do algodão ao mesmo tempo?

Escrevo-lhe esta carta para agradecê-lo pelo que fez por mim sem nem saber que fez. Pois foi com o senhor que se quintuplicou em meus voos a importância de apalpar as intimidades do mundo.

Foi com o senhor que descobri a esticadeza de horizontes e o carregamento de água na peneira. {Abaixo há uma foto minha com a peneira em que peneireio nascentes desde menininho.}

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Foi com o senhor que aprendi a sapiência do bocó. Que aprendi a ser endivinado pelo orvalho e desaprendido pelas horas do dia. Que aprendi que dá para pegar na voz de um peixe. {Estava numa loja de papéis, e a pessoa que me atendeu disse que o filho dela, de uns 6 anos, gosta de poesia. Daí peguei uma caneta na hora e lancei sobre o papel um presente ao rapaz, uma peraltagem manoeleira: “As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis. Elas desejam ser olhadas de azul”.}

Foi com o senhor que vi cenas nunca antes imaginadas nem no império brinquedeiro da minha infanciência. Com o senhor andei por um rio que cortava a tarde pelo meio. De azul, o senhor me mostrou outonos mantidos por cigarras e lamas fascinando as borboletas. Me mostrou um homem quase-árvore, que guardava um encolhedor de rios e um abridor de amanhecer {jamais vou me esquecer de como o abridor de amanhecer auroreia a terra}. O senhor me ensinou a apalpar os perfumes do sol. Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas. E não entendi. E o senhor me deu um desafio: “ao voltar para a casa, fotografe o silêncio”. E tentei, tentei, mas não consegui sacar nenhuma imagenzinha do silêncio. E voltei para uma outra conversa. E perguntei como fotografar o que eu não via. E o senhor não me explicou, só me levou para perto de uma árvore em que pássaros gorjeavam. Que cena fecundante, que bonitezaria! E o senhor me perguntou: “por que o gorjeio é mais bonito do que o canto?”. Não soube responder, estava eu em estado de voz perdida, penetrado pelos gorjeios. Passou um tempo e o senhor continuou: “gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se inclui a sedução. É quando a pássara está enamorada que ela gorjeia”. E o senhor pediu para eu olhar a árvore com atenção. “As árvores ficam loucas se estão gorjeadas”, disse. Sim, foi a primeira vez que vi o delírio de uma árvore. E foi como um balde de água cheio de fogos de artifício cremosos se derramando sobre meu olhar… Aí fotografei o silêncio do delírio da árvore gorjeada.

O senhor já me convidou para tantos festejos linguajeiros que nem há como agradecimensar tantas entradas no reino da poesia. O senhor é sábio em celebrar vazios – e sabe bem como chamar outros para partilhar sua fervura. O senhor convida homens sozinhos como pentes, que têm vozes em que nascem árvores. O senhor convida aves que sonham pelo pescoço, macacos que gorjeiam, lagartixas com odor verde, caramujos-flores, corós transparentes, ciscos feitos de gravetos, areia, grampos e cuspes de aves, mulheres de 7 peitos, moscas que se dependuram na beira de ralos, córregos, formigas ajoelhadas em pedras, baratas que passeiam nas formas de bolo, chuvas vestidas de sóis, meninos que veem a cor das vogais, sapos que sabem divinamentos, caracóis que não gosmam em latas, latas nuas e todos os tipos de pessoas com cabeças apinhadas de parafusos que farfalham.

Mestre Manoel, vidente das coisas trocadas, ousadioso dos instintos primevos, o senhor é mesmo o apogeu do chão. É quem monumentou as miudezas e também as formigas espremidas pela neblina. E o tibun das crianças. E a cobra de vidro que dá a volta por trás da sua casa.

O escrevimento dessa carta me deu vontade de rasgar inteirinhinha a fantasia da razão, está na cara que todos os caminhos levam à ignorância. Tenho gostos pela vadiagem com letras… Tenho que reaprender a errar a língua… E compartilho uma novidade: vou criar peixes no bolso, está decidido. Depois o senhor me manda algumas sugestões sobre cuidadoria de cardumes bolsais? Quem sabe dá para criar um Tratado Geral das Criações no Bolso.

Me despeço… Enquanto me despeço, remexo, com um pedacinho de arame, o poço das lembranças manoeleiras que guardo em mim. Os ventos levam-me para longe, os ventos lhe levam para longe… Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel… repetir, repetir, repetir… até ficar diferente, até contrair visão fontana.

Que uma chuva de pingos de sol leves caiam feito mel sobre o senhor. Já é hora de eu tomar meu banho no orvalho da manhã.

Tibun.

Obs.: Mestre Manoel, não foi possível amarrar o tempo no poste… Minutos antes de eu partilhar a carta que escrevi para o senhor, escrita com a água da fonte que sai dos olhos, o senhor voou fora da asa. Agradecimenso por pintar tantos azuis no mundo. Que o fim lhe olhe de azul também. Que o fim lhe olhe de azul. Manoel, Manoel, Manoel…

* escrevi a carta acima em 13 de novembro de 2015, dia da morte do poeta Manoel de Barros.


Pensem nisso, sem isso não conseguirão pensar em nada
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André Gravatá

“A liberdade total não existe”, afirma o primeiro. “Claro que não”, diz o segundo.

“A liberdade parcial também não existe”, continua o primeiro. “Também não?”, pergunta o segundo.

“Nada serve pra nada, e o que pode servir não existe”, diz o primeiro mais adiante na conversa. O primeiro debocha do segundo e a conversa continua intensa, o primeiro afirma: “Precisamos concordar, não nos resta muito tempo”.

Então aparece um terceiro personagem, com peso de autoridade, que interroga: “Conseguiram chegar a um acordo?”.

A dupla responde com uma improvisada definição de liberdade e o terceiro personagem diz que agora já podem pensar em outro assunto. Os dois primeiros dizem que não se interessam por um novo tema. O terceiro personagem ordena que continuem pensando sobre a liberdade. Os dois insistem: “Não, por favor!”.

O terceiro personagem conclui o encontro com uma ordem: “Sim, pensem nisso [na liberdade], sem isso não conseguirão pensar em nada”.

Este é um trecho da peça A Comédia Latino-Americana, dirigida por Felipe Hirsch. A cena é parte do livro La Libertad Total, do argentino Pablo Katchadjian, assim como outras cenas da peça nascem também de textos de autores latino-americanos.

Assisti, no primeiro semestre deste ano, à primeira parte deste projeto de mergulho nas vozes latino-americanas, chamada A Tragédia Latino-Americana, e fiquei bastante inspirado pela maneira que a peça desfiou o emaranhado de violentos fios que compõe nossa história. Agora, na segunda parte do projeto, n’A Comédia Latino-Americana, encontro-me novamente com o presente e o passado do nosso continente, que me puxam pela manga da camisa e me perguntam: que futuro se desenha no horizonte?

Encontro n'A Comédia cenas como a distópica conversa sobre a liberdade descrita acima, o desembarque-desvario do filósofo francês René Descartes no Brasil (que nasce da obra do poeta Paulo Leminski) e a estadia forçada, tão espantosa quanto prazerosa, do alemão Hans Staden entre índios brasileiros (de autoria do escritor Reinaldo Moraes).

A peça reúne cenas que despertam estrondosamente clara a percepção de que nossa história se funda e vive em miseráveis relações de desigualdade. Há desigualdade na relação com o europeu, que nos vê de cima, dono da razão. Há uma desigualdade brutal na cena em que se aborda o tema da escravidão e também nas canções sobre pobres e ricos, cidadãos e estado neoliberal, também parte da peça. Há desigualdade na cena dos personagens que conversam sobre liberdade: não é uma contradição perversa que o ato de pensar a liberdade seja sustentado por uma ordem?

A peça me lembrou um texto que aponta a desigualdade como o motor do embrutecimento das pessoas: o livro O mestre ignorante, do filósofo Jacques Rancière.

''Hobbes fez um poema mais atento do que Rousseau: o mal social não vem do primeiro que pensou em dizer 'Isto me pertence'; ele vem do primeiro que pensou em dizer: 'Não és igual a mim''', conta Rancière.

O primeiro que pensou “Não és igual a mim”, nesta reflexão de Rancière, não estava reconhecendo a singularidade do outro, num processo de afirmação da própria identidade, mas sim impondo a própria presença em detrimento do outro.

A peça d’A Comédia se abre com um alto muro de blocos de isopor depois desconstruído pelos atores, ruínas por vezes usadas como degraus para os personagens atingirem outras perspectivas, como quando Descartes olha para o Brasil de cima da sua escadaria da razão. O primeiro que pensou “Não és igual a mim” construiu um degrau entre ele e quem estava por perto (logo em seguida, abaixo).

Nossa utopia perdida com o nascimento do primeiro construtor de degraus é a de que a “dignidade do homem independe da sua posição”, como afirma Rancière. O que mata a possibilidade de contato genuíno entre duas pessoas tanto quanto o muro, que impede categoricamente a visão do outro, é o degrau, que exige que cada um se apresente diante do outro como superior ou inferior.

O primeiro que pensou “Não és igual a mim” descobriu como adiar a liberdade dos outros e de si mesmo.

Não é novidade: as relações de desigualdade estão impregnadas em nós como vento no ar.

Entender isso com clareza soa avassalador. “Porque quem entende, desorganiza. Há alguma coisa em nós que desorganizaria tudo – uma coisa que entende”, diz a escritora Clarice Lispector no texto Mineirinho, cujas palavras sempre me recordo quando estou diante de dilemas espinhosos como os que A Comédia aponta. Vale ressaltar que há pelo menos dois tipos de desorganização: aquela que impede o entendimento, que destrói para não deixar nada no lugar; e aquela que possibilita o entendimento ao acordar nosso olhar com uma força que bagunça certezas, deixando transparecer que até a maioria das certezas cor de concreto são apenas incertezas vestidas com roupa falsa.

A Comédia é um convite à uma desorganização fértil e bem-vinda. As cenas da peça existem como espelhos de nós mesmos e não como corpos estranhos. São longas, assim como são extensos os monólogos internos com os quais convivemos, que reproduzem relações desiguais e incoerentes. São experimentais e incertas, prezando essencialmente a desconstrução de muros e degraus.

Enquanto assistia à peça, com sua trilha sonora vibrante (obra de Arthur de Faria e Ultralíricos Arkestra) e atuações desafiadoras, que demandam atores bem atentos ao fluxo torrencial de imagens que trazem à tona, repetia mentalmente a frase do texto La Libertad Total, quando o terceiro personagem se despede: “Sim, pensem nisso [na liberdade], sem isso não conseguirão pensar em nada”. Ou seguimos um horizonte que almeja a liberdade, não aquela que está à venda, rasa, autoritária e cega, mas a liberdade capaz de desorganizar certezas e desinventar desigualdades, ou não conseguiremos pensar em nada, fazer nada significativo, pois todo o espaço será tomado por muros e mais e mais degraus.

* a peça está no último final de semana em cartaz, no SESC Vila Mariana, em SP, com mais duas apresentações, em 12 e 13 de novembro.


Como se aprende a cuidar do espaço público?
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André Gravatá

''Nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela, ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular.''

A frase acima tem cheiro de presente ou de passado? Você diria que essas palavras foram ditas em que época?

É uma frase sobre o Brasil de 1630.

Repito: 1630.

São palavras do frei Vicente do Salvador, um religioso franciscano, autor do livro ''História do Brazil''. Encontrei essa frase no livro ''Brasil, uma biografia'', das autoras Lilia Moritz Schwarcz e Heloísa Starling.

Se em 1630 o dilema era o traiçoeiro descuido com bem público, o que podemos dizer sobre hoje? Este ano, em conversa com o educador colombiano Bernardo Toro, ouvi dele que cuidar do espaço público é cuidar dos desconhecidos. É cuidar de quem não sabemos quem é, mas que pode também usufruir do bem comum. É cuidar de si mesmo, já que somos desconhecidos para tantos outros.

Se cuidar do espaço público é uma tentativa de deixar pra trás as palavras de 1630; se cuidar do espaço público é prestar atenção nos desconhecidos (e haja desconhecidos num país como o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes); como se aprende a cuidar do espaço público? Que país teríamos se as escolas fossem lugares onde aprender a cuidar do espaço público se tornasse prioridade?

Na periferia de São Paulo, na Vila Palmares, jovens da EMEF Marili Dias criaram um Fórum Participativo pra aproximar a escola do seu território. O projeto surgiu de um debate sobre os problemas do bairro e, depois de articulações com a subprefeitura, o grupo conseguiu que ruas sem iluminação ganhassem postes de luz, ruas fossem asfaltadas e calçadas construídas. Recentemente, alunos dessa mesma escola organizaram um mutirão para embelezar a escola. Nas palavras que divulgaram nas suas redes sociais, diziam que os alunos entenderam que a luta pelo espaço público de qualidade começa quando a participação é coletiva e democrática.

Essa ação que nasceu com os jovens da EMEF Marili Dias vê a cidade como educadora, ocupa o espaço público com cuidado e criatividade.

Para deixarmos para trás a frase de 1630, precisamos repetir a pergunta ''como se aprende a cuidar do espaço público?'' todo dia, escrevê-la pelas paredes do olhar, do território, para resgatarmos sua importância e, mais ainda, experimentarmos respostas concretas que permitam um desvio na nossa extensa história de desprezo pelo bem comum.

*Conheci o projeto dos jovens de Vila Palmares por meio do Criativos da Escola, uma iniciativa que mapeia e premia ações de protagonismo de crianças e jovens pelo Brasil. As inscrições para o Desafio de 2016 vão até dia 15 de outubro, então quem realizar ou conhecer projetos de protagonismo infanto-juvenil entre em www.criativosdaescola.com.br.


De cima pra baixo, só aceito chuva!
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André Gravatá

Aqueles amigos costumavam brincar mais de Escola do que de Esconde-Esconde.

Na brincadeira Escola, simulavam salas de aula com professores na frente de lousas imaginárias e alunos sentados em carteiras imaginárias. Até que uma criança pediu a atenção de todos e propôs outra brincadeira:

– Hoje quero brincar de Medida Provisória!

– Que que é isso?

– A Medida Provisória muda as regras!

– Quê???!!!!!!

– Vim mostrar que estou aqui! E que precisamos mudar rápido, não dá pra esperar!

– Você veio consultar a gente pra mudar o jogo, é isso?

– Não, a intenção é mudar o jogo agora, pois já consultei vocês!

– Quando???

– Falei com alguns aqui.

– Ah, tá, sei. Só pra lembrar: você não tá no jogo Ditadura ou naquele outro… como se chama mesmo? Ah, sim, aquele jogo idiota que ficou conhecido como Fingir Que O Outro Não Existe. Agora estamos jogando Escola. Sabemos que é um jogo antigo, um tanto chato, precisa de mudanças. E há quem já esteja experimentando novos combinados. Não tem sentido mudar o jogo Escola com base na brincadeira A Autoridade Mandou!

– Acha que a gente vai fazer o que você quer só porque você quer? – diz outra criança.

– Sim.

– Quais regras você quer mudar? – questiona uma criança na primeira fileira de carteiras imaginárias.

A resposta dura 13 páginas. Aumenta o burburinho.

– O que você fala confunde a gente! – exclama uma menina que ouviu cada palavra com atenção – Mesmo embaralhando o pensamento, você quer fingir que veio pra organizar? Não sabe brincar de Clareza na Comunicação ou do jogo Consistência? Você falou falou falou e não consegui entender se na Escola ainda são obrigatórias ou não as partidas de Educação Física e Artes! Vai brincar de Confusão com outros!

– Boa proposta! – grita uma criança com rosto curioso – Estava na hora de alterar os combinados da Escola! Nunca havia brecha pra essa pauta de mudança no curto prazo, o assunto pede urgência!

Outros se pronunciam, cada vez mais agitados:

– Sério que há quem aprove a mudança? Acha mesmo que dá pra entrar na brincadeira Escola com decisão de cima pra baixo? Se quer jogar Mestre Mandou, fala logo! Sua vontade é brincar de Precarização e Aumento das Desigualdades!

– De cima pra baixo, só aceito chuva! De cima pra baixo, só aceito chuva! – cantarolaram algumas crianças ao mesmo tempo, repetindo um verso que inventaram durante a brincadeira Música.

– Você pretende que a gente perca a noção de prioridades! Quero ver você ter coragem de mudar as regras de outra brincadeira, aquela chamada Privilégios! Vá, vá!

– Pra mudar o jogo Escola, tem que jogar Diálogo! Me escute!

 


Verbos para conjugar no espaço público
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André Gravatá

[ EU/TU/ELX/NÓS/VÓS/ELXS { … } NO ESPAÇO PÚBLICO ]

{APARECER} Para marcar território no espaço físico e no imaginário social.

{CAMINHAR} Para arejar os pensamentos.
*e insistentemente desdomesticá-los.

{DANÇAR} Para acordar a intimidade com o corpo.

{BRINCAR} Para o encantamento passear.

{DESENHAR} Para inventar novos contornos sobre os já existentes.

{PRESENTEAR} Para regar inesperados nos desconhecidos.

{DEVAGARANDAR} Para respirar.

{DESOBEDECER} Para relembrar que tudo é invenção e algumas invenções são péssimas.

{LUPAR} Para prestar atenção em poços de significados escondidos.

{PENSOLARAR} Para desconstruir crenças rasas.
*pensolarar é quando a pessoa deixa raios e trovões de sol derreterem calotas de pensamento parado.

{CANTAR} Para mostrar que a voz dança.
*e chamar a voz do outrx pra dançar é poesia.

{ESVAZIAR} Para que, sem excessos, nossa presença seja um respiro pro outrx.

*este pequeno dicionário nasceu do encontro de dois instantes: a vivência da organização da Virada Educação Centro de SP, cujas atividades públicas acontecem até o dia 20 de agosto em espaços abertos pela cidade; e uma fala da educadora argentina Chiqui González, ministra de inovação e cultura da região de Santa Fé, sobre ''aparecer'' e ''rebelar-se'' como verbos para conjugarmos no espaço público.


Poesia não é para almas elevadas, mas sim para almas levadas
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André Gravatá

Um dia entreguei uma poesia de presente para uma diretora de escola. Eram versos do querido Manoel de Barros sobre a importância das insignificâncias. A diretora leu a poesia e disse que na escola dela aquele tipo de texto não chamava atenção, que poesia é apenas para almas elevadas. Não consegui respondê-la direito, mas aquela frase ficou na minha cabeça. Poesia é para almas elevadas? Poesia é para almas elevadas?

Até que um dia a frase que virou pergunta se tornou um poema, uma resposta tardia à diretora: Poesia é para almas levadas. Claro! Poesia não é para almas elevadas, mas sim para almas levadas. Para almas que dançam, capazes de se sensibilizar com o que há de mais comum, artesãs da arte de respirar com a pele inteira e pegar na voz do sol.

Esse encontro com a diretora volta e meia se senta à entrada da memória, fica por lá fisgando minha atenção. Assim como uma outra conversa, com o amigo e poeta Nicolas Behr, que um dia visitou uma escola onde as crianças queriam se certificar que ele realmente era um poeta. Na imaginação delas, todos os poetas estavam mortos, então encontrar um representante desta arte ainda vivo era fato extraordinário.

Afastamos a poesia do cotidiano. Mas ela não se afastou de nós, continua bem embaixo do nariz.

Porque poesia não é apenas poema, frase com palavra rebuscada, que rodopia na mente, que rima. Poesia é atenção às insignificâncias, como tão bem nos ensinou Manoel de Barros. Poesia é estranhamento com o familiar. Poesia é espanto que transforma a gente em nascente, encanto que deixa olhar igual caleidoscópio. Se não há percepção de poesia no cotidiano, nossa sensibilidade vira asfalto e nos tornamos mais pobres.

A habilidade do estranhamento com o habitual nos mantém acordados. Senão a flor da pele murcha, o sangue perde cor, tudo vira botão pra apertar, horário para cumprir, chão pra correr.

A beleza da poesia tem a ver também com sua família: ela é parente da leveza. Mesmo quando o espanto que a poesia nos traz abre as cortinas das tragédias e nos faz percebê-las com doloroso pesar, ainda assim a poesia nos deixa respirar. A poesia nos convida a respirar. Num mundo em que o sufocamento é hábito, respirar fundo e pausadamente se torna um ato de desobediência e resgate da sensibilidade.

Para aproximar poesia e educação é essencial ver que a poesia convida a educação a respirar novos ares. Resgatar a poesia no cotidiano e na escola não se faz apenas recitando Manoel de Barros de manhã, tarde e noite. O estado de poesia depende de um corpo poético, que descobre constantemente lugares para olhar com atenção, para levar o estranhamento e o encantamento em passeios.

*Para explorar São Paulo poeticamente, de mãos dadas com a educação, convido vocês a participarem de um projeto que tenho a alegria de compor desde 2014, junto com uma série de pessoas que admiro e que me inspiram muito, chamado Virada Educação. A abertura pública da Virada Educação Centro de SP 2016 acontece hoje, dia 17 de agosto, às 19h, com ponto de encontro na Praça da República. Seguiremos em cortejo, almas levadas pelas ruas com o grupo Ilú Obá de Min (mais detalhes do convite por aqui). É um momento para ocupar o espaço público e o corpo com música, movimento, infância & cor. Em seguida, entre os dias 18-20 de agosto, acontecem mais de cem atividades gratuitas em vários espaços do centro de São Paulo (programação completa aqui).